“BRICS” é a mais suja das siglas do cinturão de Wall Street, e por uma boa razão: a consolidação dos BRICS é o único projecto orgânico e de alcance global com potencial para inviabilizar o aperto dos excepcionalistas sobre a chamada “comunidade internacional”.
Dessa forma não é nenhuma surpresa que os três principais poderes dos BRICS estarem sob ataque simultâneo, em várias frentes, já desde à algum tempo. Quanto à Rússia, é tudo sobre a Ucrânia e a Síria, a guerra dos preços do petróleo, o ataque hostil e estranho sobre ao rublo e a demonização da “agressão russa”. Na China, é tudo sobre a “agressão chinesa” no Mar do Sul da China e do raide (falhado) às bolsas de valores de Xangai / Shenzhen.
O Brasil é o elo mais fraco dessas três potências emergentes. Já no final de 2014, ficou claro que os suspeitos habituais não teriam qualquer tabu para desestabilizar a sétima maior economia global, visando uma boa mudança de regime à moda antiga através de um cocktail desagradável de impasses políticos (“ingovernabilidade”)que arrastariam a economia para o lodo.
Das inúmeras razões para o ataque incluem-se a consolidação do banco de desenvolvimento dos BRICS; o esforço concertado dos BRICS para a negociação nas suas próprias moedas, ignorando o dólar norte-americano e com o objetivo final de criar uma nova moeda de reserva global para o substituir; a construção de uma grande linha de telecomunicações de fibra óptica submarina entre o Brasil e Europa, bem como a outra ligação que visa ligar os BRICS da América do Sul aos da Ásia Oriental – ambos ignorando o controlo dos EUA.
E acima de tudo, como de costume, a mais sagrada razão – o desejo ardente dos excepcionalistas de privatizar a imensa riqueza natural do Brasil. Mais uma vez, é o petróleo.
PRENDAM LULA OU ENTÃO…
A WikiLeaks já havia denunciado em 2009 como as grandes petrolíferas estavam activas no Brasil, tentando modificar – por todos os meios de extorsão possíveis – uma lei proposta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, fixando a rentável e estatal Petrobras como a detentora dos direitos de exploração da maior descoberta de reservas de petróleo no século 21; os depósitos do pré-sal.
Lula não só manteve as grandes petrolíferas – especialmente ExxonMobil e Chevron – fora do quadro, mas ele também abriu a exploração de petróleo brasileiro à Sinopec da China, como parte da parceria estratégica Brasil-China, no seio da aliança dos BRICS.
Não há fúria igual à dos excepcionalistas desprezados. Tal como a Máfia, eles nunca perdoam. Lula um dia teria que pagar, como Putin deveria pagar para se livrar dos oligarcas na esfera dos EUA.
A bola começou a rolar com Edward Snowden a revelar como a NSA estava espiar a presidente brasileira Dilma Rousseff e altos funcionários da Petrobras. Isto foi conseguido com a colaboração da Polícia Federal, que recebe formação, informação e acompanhamento, tanto do FBI como da CIA (principalmente na esfera do anti-terrorismo). E continuou através da investigação do “Lava Jacto”, que descobriu uma vasta rede de corrupção envolvendo funcionários dentro da Petrobras, principais construtoras brasileiras e políticos do Partido dos Trabalhadores no poder.
A rede de corrupção é real – com “provas”, geralmente testemunhos, raramente apoiados por documentos, obtidos principalmente a partir de mentirosos compulsivos / trapaceiros / vigaristas em série astutos, que denunciam alguém como parte de um acordo judicial.
Mas, para os promotores do “Lava Jato”, o objectivo real foi, desde o início, chegar a Lula.
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Isso leva-nos até à espectacular e Hollywoodesca operação de sexta-feira, em São Paulo, que enviou ondas de choque pelo mundo fora. Lula “detido”, interrogado, humilhado em público. Isto foi a forma como eu analisei isto em detalhe.
O Plano A do raide ao estilo de Hollywood a Lula era um plano duplamente ambicioso. Não só para preparar o caminho da impugnação da presidente Dilma Rousseff ao abrigo de um complô de “culpa por associação” muito rebuscado, mas também para “neutralizar” Lula de vez, impedindo-o de concorrer novamente às eleições em 2018. Não havia um plano B.
Previsivelmente – como em muitas das criações do FBI – toda a operação saiu furada. Lula, numa lição de mestria política através de um discurso transmitido ao vivo para todo o país, não só de forma convincente passou a imagem de si mesmo como um mártir de uma conspiração, mas também galvanizou as suas tropas. Até mesmo os conservadores mais respeitáveis vocalmente condenaram o show Hollywoodesco, desde um ministro do Supremo Tribunal Federal, um ex-ministro da Justiça, e até mesmo o economista Bresser Pereira, um dos fundadores do PSDB – os ex-social-democratas que se transformaram em aplicados aliados dos excepcionalistas e líderes neoliberais da oposição de direita.
Bresser verdadeiramente declarou que o Supremo Tribunal Federal deve intervir no processo “Lava Jato” para evitar abusos. Lula, por exemplo, tinha pedido ao Supremo Tribunal detalhes sobre qual a jurisprudência que era relevante para investigar as acusações contra ele. Para além disso, um advogado que estava no centro da acção do show Hollywoodesco afirmou que Lula respondeu a todas as perguntas as durante as quase quatro horas de interrogatório sem piscar – perguntas que ele já tinha respondido antes.
O advogado Celso Bandeira de Mello, por sua vez, foi directo ao assunto: a classe média alta brasileira – que chafurdam na arrogância, ignorância e preconceito, e cujo sonho é um condomínio em Miami – estão com medo e pavor de morte de que Lula possa ganhar de novo em 2018.
E isso nos leva ao juiz e carrasco de todo o drama: Sergio Moro, o actor principal do “Lava Jato”.
A carreira acadêmica de Moro é pouco emocionante. Ele não é exactamente um peso pesado da teoria. Formou-se como advogado em 1995 numa universidade medíocre no meio do nada num dos estados do sul do Brasil e fez algumas viagens aos EUA, uma delas financiada pelo Departamento de Estado para aprofundar o tema da lavagem de dinheiro.
Como eu disse antes, a obra-prima dele é um artigo publicado em 2004 numa revista obscura (“Considerações sobre a Operação Mãos Limpas”, na revista CEJ, número da edição 26, Julho / Setembro de 2004), onde ele claramente exalta a “subversão autoritária da ordem jurídica para atingir alvos específicos” e usando os meios de comunicação social para intoxicar a atmosfera política.
Em poucas palavras, o juíz Moro literalmente transpõe a notória investigação da operação “Mãos Limpas” da década de 1990 em Itália, para o Brasil – instrumentalizar ao máximo os meios de comunicação social e e judiciais para conseguir uma espécie de “deslegitimação total” do sistema político. Mas nem todo o sistema político – apenas o Partido dos Trabalhadores – como se as elites que permeiam o espectro político da direita brasileira fossem santos imaculados.
Por isso, não é nenhuma surpresa que o negócio da família Marinho, o império de comunicação social da Globo – um ninho de reacionários, não muito inteligentes, víboras que entretiveram com relações muito confortáveis com a ditadura militar brasileira nas décadas de 1960 até 1980. Não por acaso, a Globo reportou, muito ao estilo de Hollywood, antes dos factos ocorrerem, o que lhe permitiu ter uma cobertura geral ao estilo da CNN.
Moro é visto por legiões no Brasil como o Elliot Ness indígena. Outros advogados que têm acompanhado de perto o seu trabalho sugerem que ele alimenta a fantasia distorcida de que o Partido dos Trabalhadores é um parasita de multidões saqueadoras do aparelho do Estado com o objetivo de entregá-lo, em pedaços, aos sindicatos.
De acordo com um desses advogados que falou aos meios de comunicação social independentes brasileiros, o ex-presidente da Ordem dos Advogados no Rio de Janeiro, Moro está rodeado por um bando de jovens promotores fanáticos, com pouco conhecimento jurídico, e crendo que são a versão brasileira do Antonio di Pietro (mas sem a solidez do procurador milanês do “Mãos limpas”). Pior, Moro é indiferente ao facto de que a implosão do sistema político italiano levou ao surgimento de Berlusconi. No Brasil, o resultado certamente seria o emergir de um idiota apoiado pelo império Globo, cujas práticas de oligopólio seriam bastante “Berlusconianas”.
OS PINOCHETS DIGITAIS
Pode ser sustentado o caso de que o raide Hollywoodesco a Lula tem um paralelo directo para com a primeira tentativa de um golpe de Estado no Chile em 1973, que testou as águas em termos de resposta popular antes do golpe a sério. No remix brasileiro, variados vermes dos mídia da Globo revelaram-se Pinochets digitais. Pelo menos muitas ruas em São Paulo hoje ostentam grafitis com a frase “golpe militar – nunca mais”
Sim, porque se trata de mais uma revolução “artificial” – sob a forma de uma impugnação de Rousseff e enviando Lula para a forca. Mas os velhos hábitos (militares) são difíceis de morrer. Os vermes dos mídia da Globo agora exaltam o Exército a ir para as ruas para “neutralizar” as milícias populares. E este é apenas o começo. A ala direita está a preparar-se para uma mobilização nacional no Domingo chamado de – e o que mais podia ser – a “impugnação (impeachment) de Dilma”.
O mérito do “lava Jato” é o de investigar a corrupção, conluio e tráfico de influências num Brasil abismalmente corrupto. Mas todos, todas as facções políticas, devem ser investigadas – incluindo as que representam as elites brasileiras. Esse não é o caso. Porque o projecto político aliado ao “Lava jato” não poderia importar-se menos com a “justiça”. A única coisa que importa é a perpetuar a crise política viciada como um meio para arrastar a sétima maior economia do mundo para a lama e chegar ao Santo Graal: uma revolução “artificial”, ou uma boa “mudança de regime” à moda antiga. Mas 2016 não é 1973, e todos agora sabem que é um aproveitamento para uma mudança de regime.
Fonte: https://www.rt.com/op-edge/334904-brazil-brics-lula-economy-regime/
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